BIBLIOFILIA e a Revolução de 32

Uma página memorável da História de São Paulo 


 Artigo de Paulo Marcelo Rezzutti*

Não foi apenas com suas jóias que os paulistas colaboraram com a Revolução Constitucionalista de 1932. Uma campanha levada a cabo pelo jornal O Estado de São Paulo buscou recolher fundos utilizando outras preciosidades: leilões de livros doados por intermédio de suas páginas. Diferen­temente do “Ouro para a revolução”, os recursos não eram destinados à causa constitucionalista, e sim aos “Orphams da Revolução”.


O acervo doado tinha um pouco de tudo. Desde as obras mais comuns, como a coleção Thesouro da Juventude, às mais raras, como primeiras edições dos Padres Manoel Bernardes e Antonio Vieira, primeira edição de “Os Sertões” autografada por Euclides da Cunha e primeiras edições de Voltaire, Rousseau, Montesquieu, entre outros.

 Os livros eram remetidos pelo correio ou entre­gues na portaria de O Estado de São Paulo, ou ainda enviados pelo Comando Revolucionário, cujas tropas recebiam as doações nas cidades onde esta­vam aquarteladas e faziam com que chegassem até a redação do jornal. Algumas cartas que acompa­nhavam os livros eram assinadas por seus doadores, entre os quais os escritores Paulo Setúbal e Cassiano Ricardo, o Cônsul da Lituânia em São Paulo, “pelos jovens” e “pelas jovens” paulistas, cujos pais certa­mente ditaram as cartas de doação, escritas em corretíssimo português por mãos ainda não muito acostumadas a pegar em um lápis. Outras eram subscritas por: “Um Patriota”, “Paulista Consciente” e diversos outros pseudônimos.

 As obras remetidas para O Estado eram nume­radas e seus títulos, publicados em uma seção es­pecial. As pessoas que se interessassem por alguma anotavam o número do livro desejado e mandavam o lance por carta, ou iam pessoalmente ao prédio do jornal e deixavam um bilhete na portaria. Vencia quem ofertasse o maior valor. Não raro, o doador do livro já mandava junto com ele um lance inicial pela obra.

O jornal chamou o artista José Wasth Rodrigues para confeccionar um ex-libris para essa campanha.

Quem arrematasse uma das obras podia mandar uma carta para a redação, com um envelope já selado para resposta, informando qual livro havia adquirido. O responsável pelo setor então enviava a etiqueta correspondente dentro do envelope recebido, contendo o número da doação.

Os ex-libris foram feitos em três tamanhos: 5 cm X 9,4 cm, 7,4 cm X 12,5 cm e 11,4 cm X 19,4 cm, cada um relativo a um tamanho de livro: in-oitavo, in-quarto e in-fólio.

*Paulo Marcelo Rezzutti ・colecionador de Ex-Libris e proprietário do Bazar das Palavras, sebo virtual onde mantém uma seção especializada no assunto. Endereço: www.bazardaspalavras.com.br.

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